ARTIGOS - GOVERNANÇA NO RIO
Obras inacabadas no Rio: falta de planejamento e incúria administrativa
Reunindo algumas das mais belas paisagens do mundo, o Rio de Janeiro é o principal destino turístico do Brasil. Suas praias, com destaque para Copacabana, são conhecidas globalmente. Em grande parte do mundo, inclusive, o belo mosaico em forma de ondas desenhado em pedras portuguesas do seu calçadão remete ao Brasil.
Diz-se que, questionado da razão por ter agraciado o Rio de Janeiro com tantas belezas naturais, tantos recursos minerais, Deus retrucou: “espere para ver o povo que vou colocar lá!”
Nada mais falso e injusto! Nosso povo é alegre, receptivo, trabalhador, resiliente, criativo, inovador e empreendedor. O que não tivemos, ao longo das últimas décadas, foram lideranças à altura dos desafios de desenvolvimento da nossa sociedade.
Corrupção à parte, a gestão dos nossos governantes destacou-se pela incúria administrativa e absoluta falta de planejamento. Embalado por uma década atípica no que tange aos preços das commodities e pela descoberta do pré-sal – na crença da manutenção dos preços do petróleo em patamares estratosféricos – entendeu-se que tínhamos decolado. Fato que estampou a capa da prestigiada “The Economist”, em novembro de 2009, na sequência do “grau de investimento” conferido ao país por conceituadas agências de risco internacionais, em abril de 2008.
No intento de obter destaque internacional que confirmasse tal mudança de patamar buscou-se, com sucesso, atrair eventos esportivos importantes. Nessa esteira, realizamos os Jogos Panamericanos de 2007, a Copa das Confederações de 2013, a Copa do Mundo FIFA de 2014 e as Olímpíadas de 2016.
A lista de obrigações impostas pelos Organizadores era imensa! Os gargalos na infraestrutura, principalmente no quesito saneamento, arenas (estádios), aeroportos e mobilidade urbana eram extremamente desafiadores.
Sediando todos os eventos, isoladamente ou de forma compartilhada com outras cidades, o Rio de Janeiro tornou-se um canteiro de obras. Projetos antigos e novos, de grande relevância, tornaram-se realidade: a revitalização da zona portuária; a ampliação de vias, como a do Elevado do Joá; a criação de corredores exclusivos para ônibus (BRTs); o novo sistema de transporte de massa (VLT); e a ampliação do sistema metroviário estão entre os principais benefícios para a infraestrutura da cidade. Bilhões foram investidos!
Em contraponto, outros projetos tão ou mais relevantes não tiveram o mesmo destino. A despoluição da Baía da Guanabara, compromisso da Rio 92, continua sendo motivo de vergonha! Os turistas que chegam à Cidade Maravilhosa pelo Tom Jobim (aeroporto) têm, como primeira impressão da cidade, o mal cheiro proveniente de suas águas, facilmente percebido em alguns trechos da Linha Vermelha – via de acesso ao aeroporto. Pior, não despoluir a baía significa condenar grande parte das comunidades no seu entorno a continuarem a conviver, indignamente, com línguas negras, vetores de doenças e pragas.
Projetos importantes de mobilidade urbana, como o BRT Transbrasil e a estação do metrô da Gávea, permanecem inacabados. O mesmo se aplica ao Museu da Imagem e do Som e a inúmeras escolas e unidades de saúde. Auditoria realizada pelo Ministério das Cidades, atual Ministério do Desenvolvimento Regional, indica o Rio de Janeiro como o estado com maior número de obras inacabadas no país, um total que supera 1.300, sendo 125 dessas consideradas de grande porte, como indica estudo realizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Obras paradas são o aspecto mais perverso da falta de planejamento, do descalabro administrativo e do total descompromisso com a ética dos nossos governantes. Inacabadas, são corroídas por ação do tempo e da maresia, desperdiçando recursos escassos de um país tão carente de infraestrutura como o nosso. Representam empregos não gerados, queda no crescimento econômico e serviços não prestados à população.
Ainda convivendo com a crise econômica que sobreveio no fim de 2014, é imperativo buscar alternativas que possibilitem a retomada e a conclusão de todas as obras inacabadas. As dificuldades são inúmeras – além da falta de recursos, grandes obras estão envolvidas em querelas judiciais, advindas dos vários casos de corrupção fartamente noticiados. Os acordos de leniência, que punem as empresas que realizaram ilícitos, mas permitem que elas voltem a ser contratadas pela administração pública, constituem provavelmente o caminho mais curto e viável para a solução da questão.
A retomada das obras, com engenharia financeira sustentável e no patamar de governança e transparência adequado, além de gerar empregos também terá impacto positivo no PIB, carente de crescimento nesse nosso conturbado 2019.
O que não se pode admitir é que todos os recursos já dispendidos – poupança e esforço de todos os brasileiros – sejam escoados pelo ralo da inação, da incompetência e da falta de criatividade.
Os governos do estado e do município do Rio de Janeiro devem voltar a máxima atenção para essa questão tão importante que atravanca o nosso desenvolvimento.
Avante Rio! Avante Brasil!
Demir Lourenço Junior – é Bacharel em Ciências Náuticas; Pós-graduado em Gestão de Sistemas de Informação pela UFF; Pós-graduado em Gestão Empresarial pela FGV; MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela Fundação Dom Cabral e INSEAD; Advanced Management Program pela ISE/IESE; Conselheiro de Administração formado pelo IBGC; Membro do Conselho Superior da Associação Comercial da Bahia; Diretor-Executivo do TECON Salvador; e Diretor-Presidente da Wilson, Sons Logística.